A saúde pública brasileira é construída, dia após dia, nos territórios onde as equipes locais do SUS enfrentam desafios concretos com criatividade, compromisso e inovação. No Paraná, onze experiências da Macro Oeste obtiveram destaque por fortalecer a Atenção Primária. Por ampliarem o acesso aos serviços, qualificarem o cuidado e garantir resolutividade nas mais diversas frentes, são expoentes. Conheça as onze experiências da Macro Oeste selecionadas para a “Mostra Brasil, aqui tem SUS” 2025.
Protocolo inédito para avaliação de risco de autismo na Atenção Primária
Desde agosto de 2023, o município de Três Barras-PR tem se destacado pela implementação do “Protocolo de Avaliação para Crianças com Risco de Transtorno do Espectro Autista (TEA) na APS”. A iniciativa de saúde pública é liderada por Débora Nádia Pilati Vidor, secretária municipal de Saúde. A enfermeira Thalitha Brandini Peliser, equipe multiprofissional e as equipes de Estratégia Saúde da Família também estão envolvidas.
O objetivo é garantir o diagnóstico precoce de crianças com TEA e, assim, viabilizar intervenções adequadas desde os primeiros anos de vida. Para tanto, o protocolo estabelece um fluxo de avaliação multiprofissional que permite identificar diferentes condições relacionadas ao desenvolvimento infantil.
Até dezembro de 2024, os resultados da experiência já demonstram impacto significativo:
- 31% das crianças avaliadas apresentaram características compatíveis com critérios diagnósticos de TEA, sendo encaminhadas a neuropediatra para confirmação e início das intervenções;
- 34% apresentaram dificuldades comportamentais como agitação motora, ansiedade e problemas de regulação emocional, sendo também encaminhadas a especialistas conforme a faixa etária;
- 27% apresentaram alterações na fala e foram direcionadas ao atendimento fonoaudiológico;
- 8% apresentaram tanto atraso no desenvolvimento quanto problemas de fala, sendo encaminhadas para atendimento fonoaudiológico, estimulação precoce e avaliação com neuropediatra.
A proposta reforça o papel estratégico da Atenção Primária como porta de entrada para um cuidado integral e sensível às especificidades do desenvolvimento infantil. Como destaca a autora, “a ideia é possibilitar o diagnóstico precoce do autismo e o encaminhamento adequado de outras necessidades infantis”, detalham as autoras.
Bem-estar físico e saúde mental entre idosos
Desde 2023, o município de Formosa do Oeste-PR tem apostado no poder transformador da atividade física para a saúde mental da população idosa. A experiência intitulada “Atividade física e saúde mental: uma análise do Programa Formosa em Movimento na vida do idoso” é coordenada por Pollyanna Santos Gimenes.
Mais do que um projeto de promoção da saúde, a iniciativa tornou-se um espaço de acolhimento e convivência. Por sua vez, demonstrando como a saúde pública pode atuar na valorização do envelhecimento com dignidade e bem-estar. Por meio de estratégias inovadoras, o programa promove o engajamento ativo, melhora a autoestima e reduz sintomas associados à depressão e ao isolamento social.
Os resultados podem ser conferidos nos depoimentos dos participantes. “Depois que vim aqui, consigo dormir a noite toda”, de 76 anos. Já outro, de 73 anos, relata: “Eu não gostava de sair de casa, porque moro no sítio e dependo dos outros. A agente de saúde me falou das atividades na academia, eu fui ver como era e nunca mais faltei”. Para um terceiro participante, de 66 anos, que enfrentava o luto e a depressão, o projeto fez renascer a alegria: “Perdi meu filho, estava com depressão e hoje fiz amigas e consigo sorrir”.
Segundo a equipe, “a realização do Formosa em Movimento ampliou o olhar da população e da equipe de saúde quanto à importância da atividade física na socialização do idoso, trazendo expressiva melhora na qualidade de vida dos participantes, tanto na saúde física quanto na mental”.
Outras integrantes são: Thaís de Oliveira Stechi (enfermeira), Graciele Tudisco Rodrigues (médica) e Ângela Cristina Schneider (enfermeira).
Teledermatologia: agilidade no diagnóstico e otimização do atendimento especializado
O município de Maripá-PR demonstrou que inovação e eficiência na saúde pública não dependem de grandes centros urbanos. Desde 2024, a iniciativa “A teledermatologia facilitando diagnósticos em um município de 6 mil habitantes”, coordenada por Lissa Carlina Haab Konrath Pegoraro, tem colhido resultados concretos na detecção precoce de doenças de pele e na organização da fila de espera por atendimento especializado.
A experiência foi desenvolvida em parceria com equipes da ESF, APS, AAE e Telessaúde. Entre abril de 2024 e março de 2025, promoveu a avaliação de 93 pacientes por meio de plataforma digital. Os resultados impressionam:
- 22 diagnósticos de câncer de pele;
- 27 casos com indicação de avaliação presencial com especialista;
- 23 casos sem necessidade de intervenção;
- 31 com indicação de tratamento diretamente na unidade.
Uma das pacientes foi submetida a biópsia após encaminhamento e recebeu diagnóstico confirmado de câncer de pele, o que evidencia a eficácia da triagem digital.
A adoção da teledermatologia trouxe impactos positivos imediatos. Segundo a autora, “a estratégia permitiu que as vagas limitadas com especialistas fossem utilizadas de forma mais racional, priorizando casos urgentes e liberando os pacientes que não necessitavam de acompanhamento dermatológico”. Além disso, estimulou a observação clínica mais atenta por parte da população e dos profissionais da APS, facilitando o início precoce de tratamentos e evitando agravamentos.
Certificação inédita com eliminação da transmissão vertical de HIV e sífilis
Entre 2020 e 2023, o município de Toledo-PR protagonizou a ação intitulada “Toledo dá o exemplo: vitória do SUS na eliminação da transmissão vertical de sífilis e HIV”. Conduzida por Gabriela Almeida Kucharski, contou também com envolvimento direto das equipes da Atenção Primária à Saúde (APS), Vigilância Epidemiológica e CTA/SAE.
O objetivo era ambicioso: eliminar a transmissão vertical — da gestante para o bebê — de HIV e sífilis na saúde pública, por meio de estratégias articuladas entre atenção básica e especializada, com foco em prevenção, diagnóstico precoce, tratamento oportuno e monitoramento contínuo.
O resultado superou as expectativas e colocou o município em posição de destaque nacional. Segundo dados do Ministério da Saúde referentes à série histórica de 2020 a 2023:
- Toledo não registrou nenhum caso de transmissão vertical de HIV;
- Houve apenas um caso de transmissão vertical de sífilis;
- Em 2023 e 2024, o município recebeu a Dupla Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e Sífilis. Assim, se tornou o único do país a ser premiado em 2023 e o segundo na história a conquistar o selo duplo.
Esses resultados são fruto de um modelo de atuação que alia planejamento, capacitação profissional e integração entre os serviços. Como destaca a autora: “a experiência de Toledo reforça a capacidade do SUS em promover respostas efetivas na saúde materno-infantil. Especialmente, quando há investimento em planejamento, capacitação e integração entre os níveis de atenção”.
Imunização como missão permanente de cuidado e vida
Em Espigão Alto do Iguaçu-PR, a imunização infantil deixou de ser apenas uma obrigação do calendário vacinal para se tornar uma missão contínua de proteção à vida na saúde pública. Desde 2024, a experiência “Na imunização, não existe missão cumprida, existe missão sendo cumprida”, liderada por Waleria Conceição da Silva, tem mobilizado um trabalho intersetorial potente e afetivo no município.
Em 2024, o município superou a marca de 100% de cobertura vacinal para as vacinas recomendadas a crianças menores de dois anos. Também se destacou positivamente em todas as Campanhas de Imunização realizadas no período, demonstrando alta adesão da população.
“Não são somente números que enchem nossos olhos de gratidão, mas seres humanos imunizados, pessoas que estão tendo a chance de se livrar de inúmeras doenças, que se permitem viver mais e com qualidade de vida”, declara Waleria.
A ação ainda conta com a participação ativa de Patrícia Rafagnin, Estela Juliana Sartori e Denize Izabel Furman, além das Secretarias Municipais de Saúde, Educação e Assistência Social, articuladas com toda a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente.
Atenção Primária capacitada em urgências domiciliares e rotinas de emergência
Desde 2022, o município de Missal-PR tem investido de forma consistente no preparo técnico e emocional das equipes de saúde para atuar em situações de urgência, muitas vezes inesperadas na rotina da Atenção Primária.
A experiência “Capacitação da Atenção Primária nas urgências domiciliares e na rotina da unidade de saúde”, liderada por Fabiane Cristina Spiecker Junges, busca levar à Atenção Primária conhecimentos e habilidades práticas para lidar com situações de urgência.
Para tanto, reconhece que esses serviços, embora não especializados em emergências, são frequentemente o primeiro ponto de contato da população com o sistema de saúde — especialmente em locais com alta circulação de pessoas.
Criou-se uma cultura de aprendizado contínuo e preparo estruturado na saúde pública. As unidades passaram a se organizar para enfrentar situações de urgência, discutindo casos, revendo condutas e se dispondo a agir com responsabilidade e agilidade, que resultou em:
- Profissionais mais seguros, engajados e confiantes ao realizar atendimentos em situações críticas;
- Formações que romperam com a zona de conforto, ampliando a capacidade de resposta da APS e promoveram o enfrentamento qualificado de episódios que antes geravam insegurança e hesitação.
Como afirma a autora: “tempo é vida nas situações de urgência; se souber manejar um paciente corretamente e encaminhar ao destino correto, é uma vida que se salva, é uma sequela que se reduz”.
A experiência de saúde pública conta com a parceria de Janiele Rodrigues de Oliveira, além da atuação conjunta de profissionais da APS, da Unidade de Emergência (UE) e do SAMU.
Metodologias ativas: qualificação da equipe de enfermagem e maior cobertura vacinal
Desde o início de 2024, o município de Pato Branco-PR vem promovendo uma transformação significativa na atuação das equipes de enfermagem em salas de vacina. A experiência “Metodologias ativas na imunização: uma nova abordagem para a equipe de enfermagem na sala de vacinas” é a responsável por tal feito.
Coordenada por Luciane Bergamin, a iniciativa de saúde pública conta, também, com a colaboração de Emanoeli Agnes Stein e Elys Regina Cecatto Albani.
O objetivo principal da experiência é fomentar o protagonismo das equipes de enfermagem. Assim, incentiva o desenvolvimento de senso crítico, habilidades técnicas e capacidade de tomada de decisão, por meio de metodologias ativas de ensino-aprendizagem — como simulações, estudos de caso e atividades colaborativas.
Os resultados obtidos ao longo do processo comprovam a eficácia da estratégia:
- No pré-teste, 31 profissionais (48%) pontuaram igual ou abaixo de 7, enquanto 34 (52%) superaram essa nota;
- No pós-teste, apenas 10 profissionais (16%) permaneceram com pontuação até 7, enquanto 47 (72%) obtiveram notas acima disso, demonstrando melhora significativa no desempenho;
- Houve ainda redução de 48% nos erros de registro vacinal (de 369 para 179) ao comparar os seis meses antes e depois da capacitação;
- E, mais importante: todas as metas de cobertura vacinal foram atingidas em 2024, ultrapassando os 95% de cobertura.
A experiência demonstra que investir em formação qualificada e centrada no protagonismo dos profissionais resulta em ganhos diretos para a população. Como resume a equipe, “ao proporcionar mais oportunidades de aprendizado e reflexão, é possível quebrar barreiras e construir um ambiente de trabalho mais colaborativo.”
Tratamento odontológico nas escolas
Em 2024, Pato Branco-PR também iniciou uma ação inovadora para promover saúde bucal nas escolas municipais: o “Projeto ART – Intervenção em Lesões de Cárie na Rede Municipal de Ensino de Patro Branco-Paraná“.
A experiência, coordenada por Poliana Alexandra Martinello, tem como objetivo realizar intervenções com o Tratamento Restaurador Atraumático (ART) em alunos do 1º e 5º ano da rede municipal de ensino, aliando o atendimento direto à educação em saúde e à prevenção de agravos bucais.
A estratégia de saúde pública buscou ampliar o acesso ao tratamento odontológico diretamente no ambiente escolar. Nesse sentido, facilitou o cuidado e reduziu barreiras como deslocamento e ausência de acompanhamento familiar. Os resultados já demonstram a efetividade da ação:
- Foram avaliados 1.162 alunos, com uma adesão de 59,2% dos estudantes previstos;
- O levantamento revelou maior necessidade de tratamento entre alunos do sexo masculino (68%) em comparação ao feminino (63,3%);
- 436 alunos (56,9%) tiveram todas as necessidades odontológicas atendidas na própria escola, enquanto os demais foram orientados a procurar a unidade de saúde para continuidade do tratamento.
A experiência teve impacto direto na redução da demanda reprimida por atendimento odontológico, ao possibilitar resolutividade dentro do ambiente escolar. Como destaca Poliana: “os resultados reforçam a efetividade do ART na ampliação do acesso ao tratamento odontológico, e destacam a importância da continuidade de estratégias voltadas à promoção da saúde bucal.”
Outros participantes da experiência são: Georgia de Oliveira Ortolan; Francyanne Rech; Leticia Moraes; Karina Copetti; Caroline Lemes da Silva; Dalila Aparecida Dobrovolski; Aletheia de Cássia Carolino Brumato; Andressa Secco; Juli Caroline Giacomelli; e Isabela Pickler Bonetti.
Parto como memória afetiva
Desde 2021, o município de Santa Izabel do Oeste-PR desenvolve uma iniciativa sensível e transformadora: “Fortalecendo vínculos familiares e eternizando memórias: Primeiro Suspiro de Vida”. Idealizado por Solange Kindzerski, é conduzido juntamente com equipe multiprofissional da Casa de Saúde de Santa Izabel do Oeste.
O projeto de saúde pública tem como propósito fortalecer os vínculos familiares no momento do parto. Isso ocorre ao oferecer uma experiência humanizada e emocionalmente significativa para as gestantes e seus familiares. Entre os objetivos da iniciativa estão:
- Eternizar as emoções vividas pela família com registros em foto e vídeo;
- Fornecer informações confiáveis sobre parto e puerpério, desmistificando tabus e crenças;
- Sensibilizar os profissionais de saúde quanto à importância da escuta, do cuidado e da humanização no processo de nascimento.
Os resultados evidenciam o sucesso da proposta:
- Foram registrados 287 nascimentos por meio de fotos e vídeos, com adesão de 100% das gestantes do município;
- Os registros emocionam não apenas no presente, mas também se tornam memórias compartilháveis pelas famílias e pelas próprias crianças no futuro.
Relatos como “graças a vocês vou poder recordar esse momento maravilhoso sempre” e “amei o vídeo, quero agradecer pelo acolhimento com tanto carinho” ilustram resultados da experiência. Uma das histórias mais tocantes foi a de um pai que, tomado pela emoção, compôs e gravou uma música dedicada ao nascimento da filha, usada como trilha sonora do vídeo que eternizou aquele instante.
Segurança hospitalar com monitoramento da higienização de superfícies
A Casa de Saúde de Santa Izabel do Oeste tem se voltado, também, à segurança do cuidado e prevenção de infecções hospitalares. Em prática desde outubro de 2023, a experiência “Implantação de monitoramento e validação do processo de higienização hospitalar” é coordenada por Vera Luzia Dias e envolve toda a equipe de saúde da unidade.
A proposta de saúde pública tem como foco monitorar e validar os protocolos de higienização de superfícies, identificar falhas, detectar áreas críticas não higienizadas, além de educar e conscientizar a equipe de apoio quanto à importância da biossegurança. O objetivo é claro: quebrar a cadeia de transmissão de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) e garantir um ambiente mais seguro para pacientes e profissionais. Entre os resultados:
- Em 2024, o índice de remoção nos pontos monitorados passou de 60% para 100% após a implementação das ações;
- A média anual de remoção foi de 87,65%, indicando evolução constante na qualidade da higienização hospitalar.
A experiência adotou como ferramenta o uso de marcador fluorescente, que possibilita a visualização objetiva das superfícies higienizadas. Assim, atuou também como estratégia de educação continuada da equipe de apoio. “A prática de monitoramento da higienização por meio de marcador fluorescente demonstrou ser uma ferramenta eficaz tanto para avaliação objetiva dos procedimentos quanto para a educação continuada da equipe de apoio hospitalar”, finaliza a autora.
Práticas educativas para adesão ao Programa Adorno Zero
Com foco na segurança do paciente e na prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), a Casa de Saúde de Santa Izabel do Oeste implantou, em maio de 2024, a experiência “Práticas educativas para aumentar a adesão à higiene das mãos e implantação do Programa Adorno Zero”.
Coordenada por Renata Fiorese Vansetto, a ação de saúde pública foi desenvolvida com o apoio da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Além de toda a equipe multiprofissional da unidade hospitalar.
O projeto teve como objetivos principais reforçar a importância da higiene das mãos como barreira fundamental à transmissão de microrganismos. Bem como, evidenciar o impacto negativo do uso de adornos (anéis, pulseiras, relógios, unhas artificiais, etc.) na eficácia da higienização. Por fim, também implantar o Programa Adorno Zero, garantindo um ambiente assistencial mais seguro para todos os pacientes.
A iniciativa teve ampla adesão por parte da equipe:
- As auditorias mensais passaram a registrar um índice de 85% de adesão à higiene das mãos;
- O Programa Adorno Zero foi integralmente adotado pela equipe multidisciplinar;
- Observou-se o desenvolvimento de um processo de trabalho mais seguro e alinhado às boas práticas de biossegurança.
A experiência se destaca por adotar medidas simples, de baixo custo, mas com alto potencial de impacto. “A remoção de adornos se mostra extremamente eficaz para garantir que a higienização seja realizada de forma completa, sem áreas de risco negligenciadas”, finaliza a autora.
Por fim, conheça, também, as experiências do apoio e das outras regiões: